domingo, 11 de novembro de 2007

Homenagem ao ilustre integrante Bruno Philippsen!!!



Segue-se então as apresentações dos integrantes do Bando...




Em reunião do Bando de Letras decidimos fazer uma homenagem a este moço da foto, o Bruno, querido integrante do Bando, que até então postava nesse blog e que anda meio afastado dos terrorismos poéticos por motivos pessoais e profissionais. Porém, queremos deixar bem claro que não o esquecemos e que seus dons de poeta, declamador e músico são sempre bem vindos em nosso grupo, tanto é que seu outro dom - de escritor de contos- é explorado nessa postagem, com o intuito de mostrar que o Bando não gosta e produz apenas poesias, mas também outras formas textuais.




Sei que não sou a pessoa mais indicada para escrever sobre o Bruno, convivemos pouco durante a faculdade, no entanto, tenho certeza que posso escrever como leitora e admiradora de seus textos. Também posso afirmar, em nome do Bando, que o Bruno e todos os integrantes soam na mesma nota musical e que por isso, nossas vidas pertencem a mesma dança... a mesma vontade de TERRORISMO POÉTICO, trazida por ele mesmo à primeira noite do Bando de Letras.





Por ser surpresa para o Bruno, não postei suas influências e tomei como minha responsabilidade a opção desse texto que gosto muito:





Vidas na mesma dança

Sem muito ânimo, ele arriscava algumas notas desafinadas no trompete, da música cidade maravilhosa. O som saía meio rouco pela janela do apartamento, ou melhor, da sala comercial que César chamava de apartamento há seis meses. A música sempre fora uma grande paixão, mesmo que platônica para ele. Só uma chuva muito fina, iluminada pelas lâmpadas de mercúrio da rua, ouvia o trompetista.
Que horas seriam? Algo entre meia-noite e duas da madrugada, ele pensava. Um silêncio absoluto reinaria, não fossem os exercícios no trompete. Essa era a vantagem de morar em um edifício comercial: sem vizinhos durante a noite. Durante o dia, ele convivia com os pacientes do consultório odontológico da porta ao lado. O barulho da broca do dentista podia ser ouvido nitidamente, além das recomendações do doutor. César sabia a ficha de todos os pacientes, mais alguns meses e ele estaria quase formado em odontologia como sua mãe sempre quisera.
Na porta em frente, a vizinhança era outra: o escritório de uma empresa multinacional de fertilizantes e adubos. “Bem condizente com a minha situação” - ele pensava – “Uma merda!”.
Digitando maquinalmente o trompete, ele pensava no que faria no outro dia. Havia perdido a conta dos lugares em que tinha deixado seu currículo. A falta de dinheiro lhe corroia os bons pensamentos. Ainda bem que um conhecido tinha cedido uma sala comercial ociosa ganha em um processo para ele viver temporariamente na capital.
O tempo tinha passado, seus amigos tinham casado, seus pais tinham morrido e seus ideais também. Os trinta anos estavam mais próximos do que ele gostaria e a realização dos sonhos tão longínqua quanto sua cidade natal. Naquela noite úmida, César remoia suas lembranças e projetos: tudo que poderia ter sido, mas não foi.
A aproximadamente dez quilômetros dali, alguém com a mesma idade tinha quase os mesmos pensamentos que César. Uma das diferenças, é que esse alguém não tinha um instrumento musical em mãos. Vanderlei tinha uma arma e estava pensando no que faria no outro dia. Na fraca luz incandescente do barraco que o seu conhecido lhe havia emprestado temporariamente, ele tentava planejar o assalto ao banco localizado no prédio em que César morava, vendo a mesma chuva fina cair lentamente.
Vanderlei também era do interior. Interessantemente da mesma cidade que César. Na verdade, se eles buscassem bastante em suas memórias, eles lembrariam que haviam sido colegas na primeira série há vinte e dois anos atrás. Agora eles eram colegas no mesmo sentimento de desilusão.
O que nenhum dos dois teria condição de saber é que eles morreriam na manhã seguinte. César nunca imaginaria que ao atravessar a rua em frente ao seu prédio, ficaria na trajetória de uma das balas que Vanderlei iria disparar contra um vigia em sua fuga. Vanderlei não poderia supor que a caminhonete vermelha que conseguiria desviar do corpo de César caído no asfalto, o encontraria fatalmente na calçada.
Mas enquanto o outro dia não chegava, a chuva fina que caía lentamente na noite úmida, ouvia a música do nosso sistema social, criando a dança das nossas vidas.

Bruno Philippsen



Bruno! Espero que gostes de ter sido o escolhido para essa publicação. É nossa pequena homenagem ao incrível cara que és!

Aos leitores: COMENTEM!!!



Postado por: Naiane Carolina Menta.